Porquê que decidi ser voluntária?
Por acaso.
Porque já tinha de ser.
Foi por acaso sim.
Pensava como tantas outras pessoas (a maioria), e dizia: "... gostava de ser voluntária para ajudar os outros, mas não tenho tempo pra nada..."
Pois bem, esse tempo foi-me dado, só tive que o aproveitar. E ainda bem que o fiz.
Nunca fui de estar parada (sem trabalho) muito tempo. Preciso de me sentir útil, preciso de me levantar todas as manhas e saber que algo me espera, preciso de ter objectivos e um propósito para viver. Preciso de viver!
Um dia, estando eu na situação de desempregada, arregacei as mangas e todas as manhas o meu objectivo era procurar trabalho. Respondia a anúncios de jornais, entregava currículos em diversas empresas, dirigia-me ao centro de emprego, falava com amigos, recorri a varias juntas de freguesias, centros de formação profissional...sempre ocupada de um lado para o outro.
Não apareciam respostas de lado nenhum, mas não desisti. Estando eu a percorrer as folhas de jornais e a responder aos anúncios, vi uma solicitação em que recrutavam voluntários para a cruz vermelha portuguesa. Sempre pensei que para ser socorrista teríamos que ter uma formação nessa área e eu não tinha...o que nunca soube foi que eles davam essa formação..."porreiro, disse eu, já que não tenho trabalho, é desta que vou inscrever-me para voluntária, parada é que não posso ficar".
Tive receio, claro, nunca fui muito segura das minhas capacidades, embora me considere uma pessoa inteligente.
Não foi fácil. Fui a uma entrevista colectiva com cerca de 100 candidatos. De seguida surgiu a entrevista individual com o comandante da Cruz Vermelha e com um psicólogo. Depois reunir todos os documentos necessários, entre eles um registo criminal e um atestado de robustez físico e psicológico. Foi complicado arranjar o atestado, não tinha medico de família e encontrei algumas entraves, pois não arranjava nenhum medico disponível para o passar. Nesta altura, estava prestes a desistir, mas como se diz que quem tem amigos não morre na cadeia...pedi a uma amiga (detesto ter que pedir favores) que trabalha num hospital e ela lá conseguiu que um colega (medico) me fizesse o exame. Porreiro.
Agora vinha a parte mais difícil, a formação. Dei-me conta que já tinha deixado de estudar à 20 anos...ia ser complicado. A formação iniciou em Abril, em Junho arranjei um part-time (através de um amigo) das 18h até às 22h. Entretanto fui chamada para frequentar um curso de formação profissional que iniciava em Setembro.
Assim sendo, de segunda a sexta feira frequentava o curso das 9h até às 17, de seguida corria para o part-time das 18h às 22h, e a formação na Cruz Vermelha era à sexta feira das 21h às 24h, sábado das 14h às 17h e ao domingo das 9h às 13h. (à sexta-feira saia mais cedo do part-time e compensava as horas sábado de manha). Dá para ver como foi complicado?! Com esforço lá consegui.
Depois de tudo isto...veio o exame final da Cruz Vermelha...juro que nunca me senti tão stressada com um exame. Éramos cerca de 40 socorristas, estivemos na unidade de socorro desde manha. Éramos avaliados em equipa e individualmente pelo formador e por um técnico de Lisboa pertencente à Cruz Vermelha. De manha fizemos o exame teórico, durante a tarde o exame pratico.
Imaginam a minha ansiedade? O meu grupo era o penúltimo, o exame iniciou às 23h, já tinha visto três colegas serem reprovados... Alivio...Correu bem! Feliz, muito feliz mesmo! Nem conseguia acreditar. É verdade, chorei de tão feliz que estava.
Isto tudo para dizer que adoro ser voluntária, que me dá prazer poder proporcionar momentos menos dolorosos a pessoas que eu não conheço...que adoro poder fazer a diferença num momento em que as pessoas estão tão vulneráveis, num momento em que as pessoas mais precisam de ajuda...Sinto-me bem!
Quando me perguntam com admiração "...então ganhas mesmo nada? " Respondo com sinceridade: "É claro que ganho.Ganho a satisfação de dever cumprido. Ganho tanto..." A sério, não dá para explicar o que sentimos quando vemos um rosto agradecer-nos com um olhar. Mesmo sabendo que dali a segundos já ninguém se vai lembrar do nosso rosto.
Sou voluntária à mais de cinco anos e quero sê-lo a vida toda (até conseguir ser capaz).
No mês de Fevereiro fui promovida a especialista de emergência principal e recebi uma medalha de mérito, uma dessas que está na imagem, linda não é? Numa cerimónia onde constavam várias individualidades, os nossos familiares e toda a família da Cruz Vermelha da nossa delegação, foi-me entregue pelo meu irmão(que eu fiz questão) a nova insígnia e a medalha.
Gosto de ser voluntária e não tem nada a ver com isto de receber medalhas...mas foi um momento único, um orgulho ser tripulante de ambulâncias da Cruz Vermelha Portuguesa a maior Instituição Humanitária do mundo.
:)
Quando se quer muito uma coisa, consegue-se =)
ResponderEliminarParabéns pela medalha =)
Beijocas
É verdade Cláudia, com esforço e com vontade tudo se consegue.
EliminarAinda bem que não desisti :)
Bjnhs
O teu "marido" esteve presente?
ResponderEliminarNão, o meu "marido" não esteve presente, nem no Compromisso de Honra (juramento de bandeira) nem agora.
EliminarBjnhs ;)