quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Tão meiga a Ritinha


Já o disse, sou complicada, tenho uma cabeça complicada. Penso demasiado... gosto do incomum... seduz-me o diferente... adoro tudo o que é novidade... sou curiosa... gosto de entender as coisas misteriosas... preciso de respostas...
Gosto de pessoas, do sabor doce das palavras, do aroma que me desperta os sentidos mais obscuros, do toque da pele quente e macia. 
Gosto de me superar, de ultrapassar os meus medos, de conhecer os meus limites. Excita-me o facto de constatar que não tenho limites. Gosto de me conhecer e saber que posso sempre mais. Fascina-me o desconhecido. Gosto de sentir a adrenalina, de sentir o perigo...
Gosto de não me ter deixado formatar. Gosto da forma como trato o ser humano na sua forma mais primitiva, mais pura, mais simples. 
Gosto desta minha liberdade de pensamento e de entender que todo o ser humano deve ser livre e feliz. Aceito e respeito qualquer opinião. Não tenho qualquer tipo de preconceito. 

Todos somos diferentes (pena que sejamos formatados ao longo de toda a nossa vida). Somos formatados para estudar, ter uma profissão, casar, ter filhos, tratar do lar, e viver em família ate que a morte separe... Somos formatados pela família, pela sociedade, pela religião, por um partido político...Tudo uma grande treta! Somos robotizados e nem percebemos. 


Chama se Rita, Ritinha como todos lhe chamam, doce, meiga, alegre, prestável, muito querida entre os colegas de trabalho. Descubro-lhe uma revolta camuflada e deixa escapar um olhar misterioso. Gosto dela (todos gostam), observo-a, algo nela me desperta curiosidade. Acho-a diferente e isso agrada-me. Gosto da maturidade dos seus 22 anos. Gosto da sua independência, da forma livre de como se exprime, da sua mente liberta de maldade, da pureza do seu coração. Gosto da sua essência bonita. Gosto da fragilidade do seu olhar. Gosto desta miúda, que é muito senhora de si, muito segura em tudo o que faz. Gosto da sua determinação. Tento conhece-la um pouco mais... 
Gosta de tatuagens, tem algumas, lindas, todas elas com algum significado... Gosta de piercings, tem alguns... Gosta de musica... por vezes sinto-a triste quando canta. Gosto da sua sensibilidade, do carinho com que trata as pessoas. Gosto do seu ar de menina-mulher. Gosto da força que lhe sai do olhar. Vejo-a chorar discretamente num canto. Sinto-a sufocar... A Ritinha é uma miúda fofinha, alegre, gosta de rir... passa o tempo a assobiar sempre animada e bem disposta. A Ritinha, a nossa Ritinha é uma miúda feliz!  
E todo este tempo, esta meia dúzia de anos em que vou observando a Ritinha, sinto, desconfio, quase que arrisco a dizer que a Ritinha...
Não, não gosto, nem devo tirar conclusões de algo que não sei, ok, quase que tenho certeza, mas também, isso não é importante... não vai mudar em nada a admiração e o carinho que tenho por ela. Óbvio, que esse pensamento é arrumado em mim, guardado numa gaveta. Gosto da miúda pela pessoa que é, só isso!

A Ritinha entra na sala, onde estou com mais duas colegas, com o seu ar jovial e alegre. Brinca connosco, diz duas piadas e rimos todas numa animação contagiante. De seguida surge o seguinte dialogo: 
Natércia- Oh Rita já esta terminada a tatuagem que tens na barriga?
Rita- Ainda não (responde ao mesmo tempo que a mostra)
Paulina- É enorme. Quanto já gastaste aí?
Continuo a trabalhar, já conheço tão bem a tatuagem...é linda, fantástica!
A Ritinha responde e vai-se distanciando, prestes a sair da sala.
Natércia- Quando engravidares é que vai ficar grande!!!
Rita- Eu não quero engravidar.
Paulina- A Ritinha não gosta de homens, gosta de pitas. (e dá uma gargalhada desconcertante) 
Eu? Congelei! Agradeci por estar de costas voltadas para a Rita e não ver a cara dela. Neste momento a Rita já estava do lado de fora da sala e acompanhada pela gargalhada da Paulina.
Minutos depois, diz-me a Ritinha:
Rita- A Paulina ficou parva. Esta noite até vai sonhar comigo.
Bruna- É? Porque? (ok, fiz-me de desentendida, queria que ela mo dissesse...)
Rita- Não ouviste o que ela me disse à pouco?!
Bruna- Ouvi...
Rita- Então, ela queria saber, e eu respondi-lhe.
Bruna- E respondeste lhe o quê?
Rita- A verdade! Agora já sabe.

É, agora já sabe, agora já sei o que sempre soube.
Gosto da Ritinha, agora gosto mais ainda da Ritinha. A miúda frágil e doce tem uma grande coragem... A nossa Ritinha é a mesma Ritinha de sempre, agora mais feliz, mais leve e mais livre...