segunda-feira, 3 de março de 2014

Fui muito parva...



Eu sabia que não estava minimamente preparada para encontrar a Vitória. A ferida ainda dói. A cicatriz ainda não fechou totalmente. Eu sabia, sentia-o.

A Paula (nossa amiga comum) foi uma querida. Durante o percurso até a casa da Vitória, não fez qualquer comentário ao facto de não nos falarmos.
Subimos juntas no elevador, deixei que ela saísse primeiro. Sentia o coração aos pulos, as pernas tremulas, um ar carregado. Receio...era essencialmente o que sentia. Não me apetecia estar ali, mas sabia que precisava fazê-lo. Pela Vitória, por tudo de bom que tínhamos vivido, por conhecer tão bem a sua fragilidade nesse momento.

A porta abriu-se. O meu receio aumentava, sem tempo de recuar. Avancei. Todo o passado estava de volta naquele momento. Vi um sorriso triste e dois braços abertos para mim (a Vitória não é nada afectuosa, tal como eu), aproximei-me e retribui o abraço. Senti-a fria, tal como ela é, mas disponível. 

Sentamo-nos as três no sofá, um copo de vinho e a conversa foi surgindo...

A Vitória agiu como se nada tivesse abalado a nossa amizade...tratou-me pelo nome carinhoso que só duas ou três pessoas o fazem...perguntou-me tudo sobre o meu trabalho, sobre a CVP, sobre os meus filhos, o meu marido, os meus pais, irmãos, quis saber como é que eu estava...elogiou a minha imagem...lamentou alguns percalços que enfrentei nestes quatro anos... Fui seca, curta e prática nas minhas respostas! Prática!

Eu apenas lhe tentei dar apoio pela perda da sua sobrinha. Ela continua sem aceitar a perda. Não quer perder o contacto com ela...fala-lhe todos os dias, escreve-lhe, conta-lhe tudo o que se passa à sua volta...vive com uma pessoa ausente... A Vitória não está nada bem!
Eu limitei-me a confortá-la, dar-lhe apoio, só, afinal foi esse o propósito do nosso encontro prematuro.

Foi uma sensação muito estranha, por momentos, parecia que não se tinham passado quatro anos e que nunca nos tínhamos zangado, ela agiu como tal. Estava igual, estava tudo igual. Os moveis no mesmo sitio, as paredes pintadas da mesma cor, os copos de vinho eram os mesmos... A mesma Vitória que eu conhecia, o sorriso triste, o olhar intenso que até incomoda, as gargalhadas silenciosas como só ela sabe dar, os mesmos gestos...parecia que só eu tinha mudado.
Eu sentia-me diferente. Sentia-me distante daquele mundo que já não era o meu. Aquelas, já não eram as minhas amigas, eu não as via como amigas. Eu já não queria vê-las como amigas... 
Sempre séria, com um sorriso forçado. Não fiz perguntas, não fiz qualquer observação, não quis saber do seu trabalho, nem tampouco perguntei sobre a sua família...

Tenho pensado  em tudo o que vivemos juntas. Foi bom, foi uma amizade bonita, pura, gratuita. Não consigo descrever tudo de bom que foi a nossa amizade, tudo o que aprendemos uma com a outra, o tão bem que nos conhecíamos, a facto de falarmos só com um olhar, a cumplicidade que existia...tudo! 
Lamento tanto que tudo isso tenha terminado!
Eu estou diferente. Eu mudei. Mais fria em relação à amizade, mais cautelosa, mais na defensiva. Hoje não deixo sequer que algo parecido com amizade se aproxime. Não quero!

Senti medo. Medo de ter a amizade da Vitória de volta. Medo que nos voltemos a aproximar. Medo que volte aquele mundo que já não me pertence. Não quero!

Despedimo-nos cordialmente.

No meu telemóvel tinha uma mensagem da Vitória :
"Bruna, gostei muito de te ver, mas tu estavas tão calada, não disseste quase nada. Para a próxima marcamos um jantar aqui em casa, tudo bem? bjs"

Respondi: "Também gostei de te ver...foi estranho. Ah, eu sou calada. Depois falamos do jantar, bjnhs fica bem"

Eu sabia que não estava preparada!!!


6 comentários:

  1. Mário Quintana diz de forma assertiva: A amizade é como o bom café, uma vez que arrefeça quando se aquece perde o sabor e nunca mais voltará a ter o mesmo.

    Acredito nesta frase, quando a amizade arrefece raramente volta a ser a mesma.

    Gosto tanto de te ler. Da sinceridade com que partilhas pedacinhos de ti.

    Beijoooo miúda

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    1. Depositei tudo de mim naquela amizade. Fiquei triste com o facto dela a ter quebrado por tão pouco.
      Sou muito orgulhosa (um dos meus defeitos) e raramente dou uma segunda oportunidade.

      Sou incapaz de falar ou mostrar os meus sentimentos. Faço-o quando escrevo. Faço-o aqui, onde sei que ninguém me vai olhar nos olhos e ver as minhas fragilidades.
      Amanha levanto-me e sou a Bruna forte, que não se deixa abalar por sentimentalismos :)

      Bjnhs pra ti :)

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  2. Realmente assim é chato... =S
    Mas não há hipotese de um segundo encontro e as coisas correrem melhor?

    Beijocas

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    1. Pois, este foi um encontro quase forçado, não era para acontecer agora.
      Talvez haja um proximo encontro. Precisamos de falar, de falar sobre o que aconteceu. Mas nunca mais a amizade será chamada de tal. Pelo menos a nossa.

      Bjnhs Cláudia

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  3. Nunca mais aqui vim e gostava de ter um pouco mais de tempo para o fazer. Deixo-te com um beijinho e uma música...

    https://www.youtube.com/watch?v=78Kb5w8Eje0

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    1. Obrigada Alexandra, vem sempre que puderes, és muito bem vinda por aqui.

      Tenho encarado assim a vida...MARAVILHOSA!

      Bjnhs :)

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