terça-feira, 15 de janeiro de 2013

A Bruna aceitou



Momento de reflexão, era inevitável, não podia fugir, tinha que pensar muito bem o que diria ao meu cérebro, ao meu coração, sabia que teria que ser forte e principalmente ver tudo pelo lado positivo. Começando por informar a minha família (incluindo pais, irmãos, marido e filhos) aproveitei o momento em que estávamos todos juntos e com a maior naturalidade disse-lhes: "a médica disse que preciso mesmo de ser operada, fazer uma histerectomia, vou retirar o útero" claro que a reacção não foi agradável, nunca é uma noticia que se receba de animo leve, e antes que dissessem mais do que as suas próprias expressões ou perguntas do tipo"mas tem mesmo que ser?" eu disse: "...ahhh, antes isso do que tirar uma perna ou um braço ou outro membro qualquer que certamente me faria mais falta..."

Inicialmente o que eu queria era ficar bem, acabar com aquele incomodo de andar sempre com hemorragias,  com aquela sensação de peso no fundo da barriga e com o ventre dilatado.
Óbvio que fui logo pesquisar sobre mulheres que tinham passado pela mesma cirurgia. Umas com relatos positivos, outras com negativos e outras ainda que diziam horrores...mas a gente sabe que na Internet encontra todo o tipo de comentários e cada caso é um caso. Na minha opinião acho que tudo se deve à forma como encaramos as coisas. 
Durante a noite, no silencio do meu quarta, quantas vezes abracei o meu ventre e pensei (vou perder uma parte de mim, o primeiro aconchego dos meus filhos, foi aqui que tudo começou, aqui que foram gerados, que os senti meus pela primeira vez...) e sem que pudesse ou quisesse evitar as lágrimas corriam-me pelo rosto. Chorava, chorava bastante, ate adormecer. E no dia seguinte, preparava-me novamente para seguir em frente.
Passado uma semana de ter estado internada, recebi uma carta do hospital a informar que a cirurgia seria realizada no inicio de Novembro, agora só queria que o tempo passasse rápido para acabar com este tormento. 
Tirar o útero não é assim tão mau, dizia a mim mesma, não vais engordar nem te vais sentir menos mulher como diziam aquelas fulanas da net. Nada disso, vais ser a mesma Bruna de sempre, alias vais ser uma Bruna melhor sem a preocupação das hemorragias...ahhh e não te vais preocupar com o período, nem com os exames de papanicolau, nem tens que andar a tomar a pílula, nem corres o risco de engravidar...vês Bruna só coisas boas :) !
Na consulta pré-operatório a medica informou que iria fazer uma histerectomia total ou seja retirava todo o útero, mas deixaria os ovários que assim não entraria já na menopausa, uma vez que sou ainda muito nova para isso, disse que, depois viria normalmente na idade adequada para tal :)
O dia chegou, tinha que dar entrada no hospital às 8h. Entramos no carro, eu, o meu marido e o meu filho mais novo, uma vez que ele tinha aulas às 08.20. O meu marido parou na porta do hospital, eu sai, o meu marido foi levar o miúdo à escola. Dirigi-me ao elevador para subir ate ao 5º piso serviço de ginecologia. Aguardei numa salinha onde já estavam mais 3 mulheres, duas acompanhadas pelos companheiros e uma acompanhada pela mãe. Eu, aqui a Bruna, estava sozinha, afinal eu sou uma mulher forte, não, não quis que ninguém fosse comigo, a minha irmã disse que me acompanhava ou a minha mãe, mas eu não gosto de incomodar ninguém e depois também não iam fazer nada, iam sim apanhar uma seca.
A cirurgia estava marcada para as 15.30, ate lá tentei não pensar mais no assunto, aceitei, era par o meu bem estar. Nem tinha nada a lamentar, afinal eu era uma sortuda, já tinha dois filhos lindos, não pensava nem queria ter mais filhos, por isso não me ia fazer qualquer diferença.
Uma das coisas que tinha pedido ao anestesista é que não queria anestesia geral, expliquei-lhe os meus motivos e ele concordou que seria apenas anestesia local, coisa que voltei a confirmar no dia da cirurgia.
Despedi-me com carinho do meu útero que se tinha comportado muito bem quando abrigou os meus filhos e segui para o bloco operatório.
Aquele corredor, aquelas luzes por cima de mim...que sono que me estava a dar. Não são horas de dormir, pensei. Lembro-me que falavam comigo, faziam-me perguntas, conversavam entre si e disseram-me:"esta com soninho..." E eu, um pouco ingénua, respondi que sim. Só depois percebi que me tinham dado algo para dormir.
Ao acordar, senti muito frio, mas logo trataram de me aquecer, não sentia dores, mas tinha uma barriga que parecia estar gravida de 6 ou 7 meses. Disseram para não me assustar que a barriga desaparecia em breve e que tinha corrido tudo muito bem.
Nessa noite senti algumas dores, mas nada que não fosse suportável. No dia seguinte a minha mãe a minha irmã e uma amiga foram visitar-me e disseram para no dia seguinte ligar ao meu marido que ele ia buscar-me assim que tivesse alta medica.
No dia seguinte de manha o meu marido ligou-me para saber se eu já tinha alta, disse para eu lhe ligar assim que tivesse tudo pronto para sair. Por volta das 12.45 liguei-lhe, já tinha o saco arrumado, os papeis da alta comigo, ele disse-me para descer para a entrada do hospital que estaria na porta à minha espera.
Isto sim, foi o que me doeu mais, ele provavelmente não tinha noção de como eu estava, carreguei com a minha bolsa no ombro, o saco da roupa, as calças que não conseguia apertar devido a ter a barriga inchada e a dificuldade em dar cada passo com 18 pontos no ventre. Isto doeu de varias maneiras, mas eu consegui, cheguei à porta do hospital, pousei o saco e esperei. Estava muito vento, um dia frio e de chuva. Esperei, esperei ate que vi o carro chegar já com o meu filho lá dentro que tinha saído das aulas às 13.15, percebi porquê a demora. Abri a porta do carro, dei o saco ao meu folho e sentei-me com alguma dificuldade.
Chegando a casa, o meu marido perguntou-me:" e isso, já ficou tudo bem?" respondi que sim, agora ia ficar bem. 
Claro que nos primeiros dias tinha que ficar em repouso e não fazer grandes esforços, ai sim, o meu marido ajudou-me com as tarefas de casa, excepto na cozinha que é um desastre.
Passado uma semana fui tirar os pontos e depois foi só esperar que o tempo passasse e não se falou mais nisso.

Hoje sou a mesma Bruna, penso que melhor :)

6 comentários:

  1. Como te compreendo, tambem fiquei sem utero muito jovem, pensei que nunca ia ficar a mesma, lembro me que chorei muito, e tal como tu já tinha duas filhas, mas o meu medo era de não ser , mais mulher, mas aos poucos e com compreensão de uma pessoa, que amo (nao do marido)mostrou me que era uma mulher perfeita e fez de mim aquilo que sou hoje.fizestes me reviver tudo bjs

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  2. Uma grande mulher é o que tu és. Não sei se eu teria reagido tão bem como tu e nunca teria perdoado o desinteresse do marido.
    Também já estive internada e fiz uma cirurgia (nada que se pareça com a tua) e foi preciosa a atenção e o carinho do meu marido. Sei quanto se fica fragilizada nessas alturas.
    És uma grande mulher, tenho admiração por ti. Bjinho :D

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  3. Anónimo
    Claro que somos mulheres como antes, aliás agora melhor, mas acredita que também tinha algum receio...
    Temos que ser fortes e não depender de ninguém para nos levantarmos, temos que ter confiança nas nossas capacidades, afinal há pessoas que passam por dificuldades bem piores.
    Tens uma historia parecida com a minha, não é?

    Bjnhs fica bem

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  4. Gaja Maria
    Obrigada pelo carinho e admiração, mas não, não sou uma grande mulher, apenas tento ser forte e ver o lado bom das coisas, todas tem um lado bom. Mas é verdade que ficamos mais fragilizadas...
    Quanto ao marido, como já disse ele não é má pessoa, apenas o nosso relacionamento é que não é bom. Ele certamente também não sabia como reagir uma vez que nós pouco nos falamos (somos como estranhos) e é complicado dar carinho e atenção a uma pessoa "estranha". Depois eu também não gosto de depender dele para nada, não acho que ele tenha qualquer obrigação sobre mim. É complicado de explicar.
    Mas tudo já passou :)

    Bjnhs :)

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  5. Devias ter aceite mais um ombro... devias ter recebido mais apoio. És tão corajosa. Ai rapariga...:)

    Beijinho enorme

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  6. AC
    Eu sou mesmo assim, não gosto de me lamentar e muito menos mostrar que sou frágil, nunca o fui.
    Correu tudo muito bem dentro do possível.
    Bjnhs ;)

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